quarta-feira, 26 de outubro de 2016

MIOCARDITE – SINTOMAS, CAUSAS E TRATAMENTO





Coração
Miocardite é o nome dado à inflamação do músculo do coração, chamado de miocárdio. Existem dezenas de causas de miocardite, incluindo infecções por vírus, bactérias, protozoários ou fungos, medicamentos, doenças auto-imunes, consumo exagerado de álcool, consumo de cocaína, etc.
As principais consequências da miocardite são a falência do bomba cardíaca, ou seja, redução da capacidade do coração de bombear o sangue, e o surgimento de arritmias cardíacas.
Neste artigo vamos abordar as principais causas, sintomas e tratamento da miocardite nos adultos e nas crianças, dando ênfase à miocardite viral, que é a causa mais comum.
Outras formas de inflamação/infecção do coração são a endocardite e a pericardite, assuntos abordados em artigos específicos, que podem ser acessados nos links abaixo:

O QUE É A MIOCARDITE?

Camadas do CoraçãoA parede do coração é dividida em 3 camadas. A camada mais interna, que fica diretamente em contato com o sangue dentro da cavidade cardíaca, chama-se endocárdio. A camada mais externa, que envolve a parte de fora do coração, chama-se pericárdio. Entre essas duas finas camadas encontra-se uma espessa camada de músculo, responsável pela contração do coração e bombeamento do sangue, chamada miocárdio.
Como já referido acima, qualquer uma dessas camadas pode ficar inflamada, provocando quadros de endocardite, miocardite ou pericardite. Quando o pericárdio e o miocárdio inflamam juntos, damos o nome de miopericardite.
A miocardite é habitualmente provocada por uma virose e pode ter um curso clínico muito variável, indo desde quadros brandos, praticamente sem sintomas, até situações catastróficas, com falência aguda da bomba cardíaca e incapacidade do coração de bombear o sangue.

CAUSAS DE MIOCARDITE

Existem dezenas de causas para miocardite, mas as infecções virais são as mais comuns. A miocardite viral costuma ser a responsável pelos quadros súbitos de miocardite que surgem em crianças ou adultos saudáveis.
Pelo menos 20 vírus diferentes já foram identificados como potenciais causadores de miocardite viral, entre eles, podemos citar:
– Vírus Coxsackie B – provoca doenças como herpangina, gastroenterite e síndrome mão-pé-boca (Leia: SÍNDROME MÃO-PÉ-BOCA -Vírus Coxsackie).
– Adenovírus (provoca resfriado comum e gastroenterite viral) (leia: DIFERENÇAS ENTRE RESFRIADO E GRIPE).
– Vírus influenza (vírus da gripe) (leia: GRIPE | Sintomas, Tratamentos e Vacina).
– Citomegalovírus (leia: CITOMEGALOVÍRUS NA GRAVIDEZ).
– Vírus da poliomielite.
– Epstein-Barr vírus (vírus da mononucleose) (leia: MONONUCLEOSE INFECCIOSA).
– HIV (leia:  SINTOMAS DO HIV).
– Vírus da hepatite C (leia: HEPATITE C).
– Vírus da hepatite B (leia: HEPATITE B).
– Vírus da caxumba (leia: CAXUMBA).
– Vírus da rubéola (leia: RUBÉOLA).
– Vírus do sarampo (leia: SARAMPO).
– Vírus da varicela (catapora) (leia: VARICELA | CATAPORA).
– Vírus da febre amarela (leia: FEBRE AMARELA).
– Vírus da dengue (leia: DENGUE).
A miocardite viral costuma surgir durante ou logo após uma infecção viral, que pode ser tão simples quanto um resfriado. Em geral, menos de 1% das infecções virais acaba atingido o coração, porém, em infecções pelo Vírus Coxsackie B, a incidência de miocardite pode chegar aos 5%.
Nos últimos anos, a incidência de miocardites virais tem vindo a cair, provavelmente porque muitos dos vírus listados acima podem ser prevenidos pelas vacinas que fazem parte do calendário nacional de vacinação.
Outras causas de miocardite
Apesar da miocardite viral ser a principal causa de miocardite, ela não é a única. Há dezenas de outras causas de miocardite, como, por exemplo:
– Doença de Chagas.
– Tuberculose.
– Infecção por bactérias, como Streptococcus, Staphylococcus, Salmonella, Mycoplasma, Meningococo, Gonococo, pneumococo e Clamídia.
– Leptospirose.
– Sífilis.
– Candidíase.
– Estrongiloidíase.
– Toxoplasmose.
– Amebíase.
– Uso crônico de álcool.
– Uso de cocaína.
– Picada de abelhas e vespas.
– Doença celíaca.
– Doenças autoimunes.
– Febre reumática.
– Sarcoidose.

SINTOMAS DA MIOCARDITE

Como já referido, a miocardite costuma ser um quadro brando, com poucos ou nenhum sintomas. Às vezes, o paciente confunde os sintomas de uma miocardite leve com as da própria virose que a provoca.
O grande problema é quando o acometimento do músculo cardíaco provoca disfunção do mesmo, levando a um quadro chamado de insuficiência cardíaca.
Nos pacientes que desenvolvem sintomas, os mais comuns são cansaço – que em casos mais graves pode surgir mesmo com atividades de pequena intensidade, tais como andar, tomar banho, trocar de roupa ou pentear o cabelo -, inchaço das pernas, falta de ar e arritmias cardíacas.
Em alguns casos, a miocardite se apresenta de forma fulminante, provocando um quadro súbito e grave de insuficiência cardíaca, o que leva o paciente rapidamente a um estado choque circulatório. Se o atendimento médico não for rápido, o paciente evolui para o óbito. Estima-se que até 20% das mortes súbitas ocorridas em pacientes com menos de 40 anos sejam provocadas por quadros de miocardite. A morte pode surgir pelo choque cardiogênico ou pelo surgimento de uma arritmia maligna desencadeada pela inflamação do miocárdio.
Apesar da miocardite fulminante ser uma forma catastrófica de insuficiência cardíaca, caso o paciente seja atendido a tempo e consiga sobreviver à fase crítica, a longo prazo, o prognóstico é bom, pois a maioria se recupera totalmente e mantém um coração com bom funcionamento.
A miocardite também pode se apresentar de forma menos exuberante, com instalação mais lenta, porém progressiva da insuficiência cardíaca. Os sintomas de cansaço, edemas e falta de ar vão se instalando ao longo dos dias.
A história típica para se pensar em miocardite é um paciente relativamente jovem, às vezes atleta, sem doença cardíaca prévia ou fatores de risco, que desenvolve, cerca de 1 ou 2 semanas depois de um quadro viral, um quadro inexplicável de insuficiência cardíaca.
Nas formas subagudas da miocardite, o paciente pode evoluir para miocardiopatia dilatada, que é uma forma irreversível de dilatação do coração. A contrário da forma fulminante, a forma subaguda pode não levar à morte rapidamente, mas o risco de lesão permanente do coração é maior. Nas formas subagudas também há risco de arritmias cardíacas, sendo a morte súbita também um dos desfechos possíveis.

DIAGNÓSTICO DA MIOCARDITE

A miocardite deve ser suspeitada em todos os pacientes com sinais e sintomas de insuficiência cardíaca sem causa aparente. Habitualmente, a insuficiência cardíaca é uma doença de progressão lenta, com agravamento ao longo de anos, que ocorre em pessoas mais idosas, geralmente com hipertensão de longa data e doença coronariana. Uma insuficiência que cardíaca que surge de forma rápida em pacientes sem fatores de risco deve ser sempre um sinal de alerta para miocardite.
A miocardite também deve ser suspeitada em pacientes jovens, sem fatores de risco para doença coronariana, que apresentam elevação dos níveis de troponina (enzima que indica lesão cardíaca) e alterações no eletrocardiograma. Da mesma forma, arritmias cardíacas que surgem em pacientes previamente saudáveis também podem ser um sinal de inflamação do músculo cardíaco.
O ecocardiograma é o exame utilizado para o diagnóstico da insuficiência cardíaca, mas ele não é capaz de afirmar com certeza a origem do problema. A ressonância magnética do coração é um exame mais sensível, sendo capaz de identificar a presença de inflamação do miocárdio.
Apesar de todas as pistas que os exames complementares podem nos fornecer, em muitos casos a certeza do diagnóstico só é obtida através de uma biópsia do miocárdio. Este procedimento, porém, não é realizado rotineiramente nos casos menos graves, pois ele é um procedimento invasivo feito através de cateterismo cardíaco.

TRATAMENTO DA MIOCARDITE

O tratamento da miocardite depende da causa e da gravidade. Casos brandos não necessitam de tratamento especifico e costumam se curar espontaneamente com o tempo.
Nos pacientes com sintomas, o tratamento para insuficiência cardíaca da miocardite é semelhante ao que é preconizado para a insuficiência cardíaca clássica, provocada por hipertensão de longa data ou doença isquêmica cardíaca. Restrição do sal na dieta, diuréticos, beta bloqueadores e inibidores da ECA (IECA) são a base do tratamento.
Nas miocardites provocadas por viroses, medicamentos antivirais, como o Interferon beta, podem ser usados, mas eles só são eficazes se forem iniciados precocemente.
Nos casos de miocardite fulminante, o paciente precisa ficar internado em unidades de cuidado intensivo para receber todo o suporte hemodinâmico e respiratório que uma falência aguda da bomba cardíaca demanda.
Em geral, o coração se recupera totalmente com o tempo, mas alguns casos podem evoluir para dilatação permanente das cavidades cardíacas. Nestes casos, se a insuficiência cardíaca não puder ser controlada adequadamente com medicamentos, o transplante cardíaco torna-se a única opção de tratamento

ENDOCARDITE BACTERIANA – SINTOMAS, CAUSAS E TRATAMENTO

endocardite
Endocardite é o nome que damos à inflamação das estruturas internas do coração, principalmente das válvulas cardíacas. Se for causada por um agente infeccioso, chamamos de endocardite infecciosa; se o agente infeccioso for uma bactéria, o nome mais correto é endocardite bacteriana.
A endocardite surge habitualmente quando uma bactéria que está circulando na corrente sanguínea se aloja em uma das válvulas cardíacas, multiplicando-se e formando o que chamamos de vegetação valvar. A vegetação das válvulas é um emaranhado de bactérias, glóbulos brancos, glóbulos vermelhos, fibrinas e restos celulares, que é capaz de destruir a própria válvula e impedir o normal funcionamento do coração.
Neste texto vamos abordar as causas, os sintomas e o tratamento da endocardite infecciosa.

GRAVIDADE DA ENDOCARDITE BACTERIANA

Se não for reconhecida e tratada a tempo, a endocardite infecciosa costuma destruir a válvula cardíaca acometida, levando o paciente a um quadro de insuficiência cardíaca aguda e grave (leia: INSUFICIÊNCIA CARDÍACA – CAUSAS E SINTOMAS). O coração não consegue funcionar adequadamente se uma das suas válvulas encontra-se destruída.
Porém, além da insuficiência cardíaca, que por si só pode levar o paciente ao óbito, a endocardite também pode causar outras graves complicações, tais como:
– AVC, embolia pulmonar ou isquemia dos membros: coágulos de sangue misturados com vegetações podem se desprender da válvula e viajar até os pulmões, cérebro ou qualquer outra região do corpo, causando trombose à distância (leia: EMBOLIA PULMONAR e ENTENDA O AVC – ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL). Esses pedaços de vegetação que se soltam são chamados de êmbolo séptico.
– Glomerulonefrite ou infarto renal: nos rins, além do infarto renal pela embolização da vegetação, a endocardite infecciosa também pode provocar um quadro de glomerulonefrite, que pode evoluir com insuficiência renal aguda e necessidade de hemodiálise.
Endocardite
Portanto, já deu para perceber a potencial gravidade da endocardite, não sendo de se estranhar que essa infecção tenha uma mortalidade próxima de 30% (quase um em cada três pacientes com infecção das válvulas cardíacas evoluem para o óbito).
As endocardites infecciosas causadas pela bactéria Staphylococcus aureus são mais graves e mais agudas, enquanto as endocardites causadas pela família das bactérias Streptococcus e Enterococos são mais subagudas (quadro mais arrastado) e têm taxa de mortalidade menor.

COMO SURGE A ENDOCARDITE?

Nosso sangue é habitualmente estéril, ou seja, não contém germes circulantes. Quando bactérias alcançam a corrente sanguínea, dizemos que o paciente tem uma bacteremia.
A bacteremia é um evento essencial para o surgimento da endocardite. Este é um dos motivos pelo qual não se deve atrasar o tratamento de infecções, sejam elas dentárias, na pele ou em qualquer outro ponto do corpo. Quanto mais tempo uma infecção existir, maior será o risco destes germes alcançarem a circulação sanguínea. Uma vez no sangue, as bactérias podem se deslocar para qualquer ponto do organismo, incluindo as válvulas cardíacas.
A bacteremia é um fator necessário para que ocorra a endocardite. Porém, nem toda bactéria que circula no sangue se aloja no coração. Outros fatores colaboram para o risco de adesão dos agentes infecciosos às válvulas cardíacas. São eles:
a) Administração de drogas intravenosas
Nos hospitais toda administração de substâncias por via intravenosa (IV) é feita seguindo rígidos padrões de higiene, exatamente para evitar que bactérias sejam lançadas diretamente na circulação sanguínea.
Esse cuidado raramente ocorre em usuários de drogas intravenosas, como cocaína e heroína. Além da pouca higiene na hora da administração, essas substâncias não são estéreis. O resultado final é a administração de quantidades elevadas de bactérias diretamente na circulação sanguínea. Quanto maior for o número de bactérias circulantes, maior é o risco de endocardite.
Normalmente, a endocardite em usuários de drogas IV é causada pela bactéria Staphylococcus aureus.
b) Doença valvar prévia
Pacientes com lesões das válvulas cardíacas, sejam adquiridas ou congênitas (de nascença), também são um grupo de alto risco.
Em geral, pacientes com lesões das válvulas cardíacas provocadas por quadro anterior de febre reumática são aqueles com maior risco (leia: FEBRE REUMÁTICA | Sintomas e tratamento). Porém, outros alterações valvulares, tais como estenose aórtica ou mitral, defeitos congênitos, como tetralogia de Fallot, coarctação de aorta ou defeitos no septo ventricular também são importantes fatores de risco.
Até o prolapso da válvula mitral, se acompanhado de insuficiência mitral, pode ser um fator de risco para endocardite (leia: PROLAPSO DA VÁLVULA MITRAL).
c) Válvulas cardíacas artificiais
Todo paciente com uma válvula cardíaca artificial está sob maior risco de desenvolver endocardite. As bactérias têm maior facilidade em aderir a produtos artificiais do que às válvulas nativas. O risco é consideravelmente maior no primeiro ano após a troca das válvulas.
d) Endocardite de Libman-Sacks
A endocardite de Libman-Sacks é uma tipo raro de endocardite, de origem não infecciosa, isto é, que não causada por nenhum germe, que surge nos pacientes com uma doença chamada lúpus eritematoso sistêmico (leia: LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO | Sintomas e tratamento).

SINTOMAS DA ENDOCARDITE BACTERIANA

O quadro clínico da endocardite bacteriana é muito variável, podendo o paciente apresentar desde sepse grave e insuficiência cardíaca aguda, até quadros mais arrastados de febre de origem obscura, como nos casos das endocardites subagudas.
Os sintomas mais comuns da endocardite são febre e calafrios. Na endocardite subaguda, outros sintomas inespecíficos são comuns, como falta de ar, cansaço, perda do apetite, dores pelo corpo, suores noturnos, etc.
Nos quadros graves de endocardite aguda, a febre e os calafrios são intensos e o paciente rapidamente evoluiu com sinais de insuficiência cardíaca, com intensa falta de ar, incapacidade de ficar deitado e edemas nas pernas.
A história clínica, que nos ajuda a identificar os fatores de risco, associado a um quadro de febre sem causa aparente, calafrios, queda do estado geral, surgimento de sopro cardíaco (leia: SOPRO NO CORAÇÃO | Causas, sintomas e tratamento) e sinais de embolização periférica, costumam sugerir o diagnóstico de endocardite.

DIAGNÓSTICO DA ENDOCARDITE BACTERIANA

O diagnóstico é geralmente confirmado através do ecocardiograma, que é um exame capaz de identificar a presença de vegetações em uma das válvulas do coração. O ecocardiograma habitual, chamado de transtorácico, pode ser usado inicialmente, mas ele não é melhor método para o diagnóstico da endocardite. Algumas vegetações menores podem passar despercebidas nesta forma. O exame mais indicado é ecocardiograma transesofágico, que é feito por via endoscópica. Esta é a modalidade de ecocardiograma que apresenta as melhores imagens das válvulas do coração.
O tipo de bactéria que está provocando a endocardite é diagnosticado através da hemocultura, que é um exame de sangue que identifica a presença de bactérias circulando na corrente sanguínea.

TRATAMENTO DA ENDOCARDITE

O tratamento da endocardite é feito obrigatoriamente com antibiótico por via venosa, que devem ser administrados por, no mínimo, quatro semanas. A escolha do antibiótico adequado depende do tipo de bactéria que está alojada nas válvulas.
Nos casos mais graves, quando há destruição da válvula cardíaca pela infecção, uma cirurgia de troca valvar é necessária, com implantação de uma válvula artificial.

PROFILAXIA DA ENDOCARDITE

Nos indivíduos sob alto risco de desenvolver endocardite, como explicado mais acima, é indicado o uso profilático de antibióticos antes de procedimentos que possam predispor a bacteremias.
Em geral, indica-se um dose única de 2 gramas de amoxicilina ou 500 mg de azitromicina 1 hora antes de procedimentos dentários ou respiratórios.
Segundo o mais recente guideline da American Heart Association, atualizado em 2007, apenas os seguintes pacientes devem fazer profilaxia:
– Portadores de válvulas artificiais.
– Pacientes com história prévia de endocardite.
– Doença valvar em transplantados cardíacos.
– Pacientes com doenças cardíacas congênitas.
Nem todos os fatores de risco são graves o suficiente para se indicar profilaxia. Prolapso de válvula mitral, mesmo com sinais de regurgitação, e lesões simples das válvulas, como estenoses e regurgitações, por exemplo, não são indicações para uso de antibiótico profilático.
Quais são os procedimentos de risco?
– Procedimentos dentários com manipulação de gengiva, mucosa oral ou região periapical dos dentes.
– Procedimentos respiratórios que envolvam incisão ou biópsia, como broncoscopia com biópsia, remoção de amígdalas ou adenoides.
Procedimentos gástricos e urinários, como endoscopia, colonoscopia, colocação de cateteres duplo J, biópsia ou cirurgia de próstata não são procedimentos de risco para endocardite.
Sexo anal é fator de risco para endocardite?
Não, sexo anal não provoca endocardite. Isso é apenas um dos muitos mitos espalhados pela Internet. Não há nenhum estudo científico que tenha comprovado qualquer relação direta entre qualquer tipo de sexo e a endocardite.

PERICARDITE AGUDA – SINTOMAS E TRATAMENTO

O pericárdio é uma fina membrana em forma de saco, que envolve o coração e o separa das outras estruturas anatômicas ao seu redor. Pericardite aguda é nome dado à inflamação do pericárdio, que pode ser provocada por diversas situações, incluindo drogas, traumas, infarto, câncer, insuficiência renal e infecções, principalmente as de origem viral.
O sintoma mais comum da pericardite aguda é uma intensa dor no peito, que costuma agravar-se durante a inspiração profunda. Por ser uma inflamação no coração, a dor da pericardite pode ser facilmente confundida com a dor de um infarto do miocárdio, principalmente se ela estiver acometendo um paciente com alto risco cardiovascular.
Neste artigo vamos explicar o que é a pericardite aguda, quais são as suas causas, sintomas, complicações e como é feito o tratamento.
A pericardite é uma das formas de inflamação/infecção do coração. As outras duas são a miocardite e a endocardite, abordadas em artigos à parte, que podem ser acessados através dos seguintes links:

O QUE É O PERICÁRDIO

Vários órgãos do nosso corpo são revestidos por finas membranas, ficando “ensacados” e isolados dos órgãos adjacentes. Por exemplo, o cérebro é revestido pelas meninges, os pulmões pela pleura e os órgãos intra-abdominais pelo peritônio. O coração, por sua vez, fica “ensacado” dentro do pericárdio, uma membrana fibrosserosa, que serve para isolar o coração e reduzir o atrito com os órgãos ao seu redor.
pericárdio - pericardite
O pericárdio é composto por duas finas camadas, que ficam praticamente grudadas entre si, separadas apenas por uma quantidade mínima de líquido, cerca de 20 ml, que age como uma espécie de lubrificante.
Durante os quadros de pericardite, o processo inflamatório pode fazer com que o volume de líquido pericárdico aumente. Até 90 a 120 ml de líquido adicional podem se acumular no pericárdio sem que isso cause problemas relevantes ao coração de indivíduos previamente saudáveis. Porém, o acúmulo de volumes maiores pode comprimir o coração, o que reduz a sua capacidade de bombeamento de sangue e provoca uma urgência médica chamada de tamponamento cardíaco.

CAUSAS DE PERICARDITE

A infecção viral é a causa mais comum de pericardite aguda, sendo responsável por até 10% dos casos. Esta forma de pericardite é geralmente autolimitada, com duração de 1-3 semanas e costuma surgir nas épocas epidemias virais, principalmente aquelas provocadas pela gripe (vírus Influenza), resfriado ou pelo virus coxsackie.
Nestes casos, a pericardite é precedida por um quadro de virose respiratória ou por uma gastroenterite viral. O paciente melhora da infecção viral, mas dias depois começa a queixar-se de intensa dor no peito.
Vários vírus podem provocar pericardite, entre eles: virus coxsackie B, ecovirus, adenovírus, vírus influenza A e B, enterovírus, vírus da caxumba, vírus Epstein-Barr, vírus da imunodeficiência humana (HIV), vírus do herpes simplex, o vírus da varicela-zoster (catapora), vírus do sarampo, vírus parainfluenza tipo 2, vírus sincicial respiratório, citomegalovírus e os vírus das hepatites A, B ou C.
A pericardite viral pode surgir em crianças, adolescentes, adultos ou idosos. Homens são mais acometidos que as mulheres.
Além dos vírus, outras causas possíveis de pericardite são:
  • Causa desconhecida (chamada pericardite idiopática) – Em muitos casos, a causa da pericardite surge sem motivo aparente e a sua causa acaba não sendo esclarecida, o que não é um problema, pois muitos desses paciente melhoram apenas com anti-inflamatórios comuns. Acredita-se que muitas dessas pericardites idiopáticas sejam, na verdade, pericardites de origem viral não identificadas.
  • Infecção bacteriana – Geralmente surge após quadros de infecção pulmonar ou por endocardite infecciosa. Tuberculose é outra causa possível. Uma infecção bacteriana do pericárdio também pode ocorrer como complicação de uma cirurgia cardíaca. Além das bactérias, fungos também podem ser a causa.
  • Radiação – A maioria desses casos são complicações pelo uso de radioterapia para tratar cânceres no tórax, especialmente câncer de mama, câncer de pulmão ou linfoma.
  • Trauma – Os traumas de tórax, sejam por uma batida de carro ou uma lesão perfurante, tipo faca ou projétil de arma de fogo, podem causar traumas para o coração que induzem a ocorrência de uma pericardite.
  • Infarto do miocárdio – Um infarto do miocárdio (ataque cardíaco) provoca injúria do músculo cardíaco e, em alguns casos, pode causar uma pericardite.
  • Drogas e toxinas – Não é comum, mas eventualmente alguns medicamentos podem causar pericardite, entre eles: hidralazina, isoniazida, procainamida, fenitoína, fenilbutazona, trombolíticos, anticoagulantes e outros.
  • Insuficiência renal – A insuficiência renal crônica em estágios avançados pode causar o acúmulo de toxinas no organismo, provocando irritação do pericárdio.
  • Câncer – a pericardite pode surgir quando algum tumor maligno provoca metástases para o coração. Os casos mais comuns ocorrem no câncer da mama, do pulmão ou no linfoma de Hodgkin.
  • Doenças autoimunes – Várias doenças de origem imunológica podem provocar pericardite. Ente elas, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, esclerose sistêmica, doença mista do tecido conjuntivo e vasculites.
  • Doença inflamatória intestinal – A pericardite pode ocorrer em pacientes com retocolite ulcerativa ou doença de Crohn.

SINTOMAS DA PERICARDITE AGUDA

O principal sintoma da pericardite aguda é uma intensa dor no peito, que surge repentinamente, acomete toda a região central do tórax, agrava-se durante a inspiração profunda, ao tossir ou ao deitar, mas apresenta algum alívio quando o paciente senta-se e inclina o tronco para frente. A dor costuma ser descrita como uma pontada no peito; alguns dizem que sentem-se como se tivessem levado uma facada no coração.
Em muitos pacientes, porém, a dor da pericardite pode não ser tão típica e de fácil distinção. Em alguns casos, a dor não é tão aguda, e o paciente queixa-se de uma pressão ou peso no peito com irradiação para ombros, pescoço ou costas. Nessas situações, pode ser difícil a distinção entre pericardite e outras causas de dor no peito, como infarto, embolia pulmonar ou aneurismas da aorta (leia: DOR NO PEITO | Sinais de gravidade).
Nas crianças, a pericardite pode se apresentar como uma dor abdominal em vez de dor no peito.
Febre baixa, palpitações, cansaço, mal-estar e tosse também são sintomas comuns, mas geralmente ficam em segundo plano dada a intensidade da dor torácica.
Na pericardite de origem tuberculosa, o quadro não é tão agudo, e o paciente costuma ter febre alta, suores noturnos e emagrecimento.

COMPLICAÇÕES DA PERICARDITE AGUDA

Na maioria dos casos, principalmente os de origem viral, a pericardite é um evento autolimitado, que responde bem à administração de anti-inflamatórios e cura-se após 1 a 3 semanas. Porém, a pericardite pode desenvolver complicações potencialmente fatais.
As duas principais complicações da pericardite são: tamponamento cardíaco e pericardite constrictiva.
a) Tamponamento cardíaco
Em alguns casos de pericardite pode haver acúmulo de líquido entre as lâminas do pericárdio. Em cerca de 5% dos casos, esse acúmulo é tão grande, que o excesso de líquido comprime as câmaras cardíacas, impedindo o coração de se encher e bombear o sangue adequadamente. O tamponamento cardíaco é uma emergência médica, pois o paciente pode entrar em choque circulatório por falência da bomba cardíaca.
b) Pericardite constrictiva
Apesar de incomum, algumas pessoas com pericardite, particularmente aquelas com inflamação longa e com recorrências frequentes, podem desenvolver cicatrizes e um permanente espessamento do pericárdio. Nesses pacientes, o pericárdio perde sua elasticidade, torna-se rígido e passa a comprimir o coração, dificultando o adequado bombeamento do sangue. A pericardite constritiva costuma causar cansaço, falta de ar e inchaços nas pernas e no abdômen.

DIAGNÓSTICO DA PERICARDITE

O diagnóstico da pericardite pode ser feito clinicamente através da histórica clinica e do exame físico. Ao auscultar o coração com um estetoscópio, o médico pode notar que há um barulho de fricção durante os batimentos cardíacos, chamado de atrito pericárdico. Esse sinal ocorre pelo atrito entre as duas camadas inflamadas do pericárdio.
Não é difícil pensar em pericardite quando um paciente jovem e sem fatores de risco para doenças cardiovasculares chega ao serviço de emergência com uma dor torácica típica de pericardite e apresenta atrito pericárdico à auscultação cardíaca. Porém, mesmo em casos teoricamente fáceis como o descrito acima, é preciso a realização de exames complementares para se confirmar o diagnóstico.
Em geral, o paciente acaba sendo investigado para as principais causas de dor torácica, o que inclui a realização de exames de sangue, radiografia de tórax, eletrocardiograma e ecocardiograma. A partir dos resultados desses exames, a maioria dos casos de pericardite consegue ser esclarecida.

TRATAMENTO DA PERICARDITE

Na maioria dos pacientes com pericardite aguda provocada por vírus ou sem causa esclarecida, o tratamento pode ser feito com repouso e aspirina ou algum anti-inflamatório comum. Se a dor não melhorar dentro de uma semana, o quadro precisa ser reavaliado.
Outro medicamento que pode ser usado é a colchicina, que, além de melhorar os sintomas da pericardite aguda, também reduz o risco de recorrências.
Nos pacientes que podem ou não toleram o uso dos medicamentos descritos acima, a opção são os corticoides.
Quando a causa da pericardite é identificada, como nos casos de infecções por bactérias ou tuberculose, também faz parte do tratamento o uso de antibióticos dirigidos para essas infecções. Se o paciente tem lúpus ou artrite reumatoide, o médico precisa controlar melhor essas doenças para conseguir tratar a pericardite.

PNEUMONIA – SINTOMAS E TRATAMENTO





Pneumonia
Pneumonia é o nome que damos à infecção de um ou ambos os pulmões. Para sermos mais precisos, a pneumonia é a infecção dos tecidos pulmonares e seus alvéolos.
A pneumonia é uma infecção não contagiosa causada habitualmente por bactérias, mas que também pode ser provocada por vírus ou fungos.

O QUE SÃO OS ALVÉOLOS?

Para entender o que é a pneumonia é preciso antes conhecer um pouquinho a anatomia do pulmão.
Leia o texto e acompanhe a figura abaixo para entender melhor as explicações. O ar que respiramos entra pelo nariz e/ou boca e vai para a traqueia. A traqueia, ao chegar ao nível dos pulmões, bifurca-se, formando os brônquios principais, um para o lado esquerdo, outro para o direito; estes brônquios também se bifurcam, formando os bronquíolos, que por fim, acabam nos alvéolos. Cada vez que ocorre uma bifurcação, as estruturas vão se tornando progressivamente menores.
pulmão
Anatomia pulmonar
Os alvéolos, que ficam no ponto final da árvore respiratória, são bolsas microscópicas que estão em contato com a corrente sanguínea. Através deles são feitas as trocas dos gases respirados (oxigênio e gás carbônico). O alvéolo entrega o oxigênio respirado para as hemácias (glóbulos vermelhos) no sangue e recebe delas o gás carbônico produzido pelas células do corpo. Portanto, como todos sabemos, inspiramos oxigênio e expiramos gás carbônico.
Cada um dos pulmões contém milhões de alvéolos. Se pegarmos cada um dos alvéolos e esticarmos lado a lado, a superfície coberta seria de cerca de 75 metros quadrados.
Na pneumonia, os alvéolos ficam cheios de secreções purulentas, impedindo a entrada e saída dos gases. Nestes alvéolos acometidos pela infecção não há troca de oxigênio por gás carbônico. Quantos mais alvéolos acometidos pela pneumonia, mais grave é o quadro. O paciente com pneumonia extensa pode apresentar insuficiência respiratória, precisando ser intubado e acoplado a um respirador artificial para conseguir manter o sangue adequadamente oxigenado.

COMO SE PEGA PNEUMONIA?

A pneumonia pode ser causada, em ordem decrescente de frequência, por: bactérias, vírus, fungos e parasitas.
A maioria das pneumonias são de origem bacteriana. As bactérias que mais habitualmente provocam pneumonia são: Streptococcus pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis e Staphylococcus aureus. 
Na verdade, “pegar pneumonia” não é termo mais apropriado, uma vez que tal expressão passa a ideia de transmissão da doença entre indivíduos. Na grande maioria dos casos, a pneumonia não é uma doença contagiosa como a gripe ou tuberculose (que pode até ser considerada um tipo de pneumonia). Você pode entrar em contato com um paciente com pneumonia, que, exceto em situações especiais, não haverá risco de contaminação.



Como então surge a pneumonia? Nossos pulmões são órgãos expostos constantemente a micróbios do ar e da nossa própria flora bacteriana da boca. Nós não ficamos doentes o tempo todo porque o pulmão tem seus próprios mecanismos de defesa, que o mantém livre de germes. Entre estes mecanismos podemos citar o reflexo de tosse, a presença de células do sistema imunológico ao longo de todo trato respiratório e a existência de microscópicos cílios na árvore brônquica que “varrem” os agentes invasores para fora das vias respiratórias.
O desenvolvimento da pneumonia depende da virulência do invasor, da quantidade de micróbios que conseguem chegar aos pulmões e das condições imunológicas do paciente. Em geral, uma pneumonia surge quando um germe agressivo consegue penetrar o trato respiratório e encontra o sistema de defesa comprometido.
Situações triviais podem reduzir as defesas do sistema respiratório. Por exemplo: pacientes que fumam apresentam um irritação constante de toda árvore brônquica e disfunção dos cílios protetores. As células de defesa pulmonar também são afetadas pelo cigarro e não funcionam tão bem. Tudo isso favorece o aparecimento de infecções respiratórias. Outro exemplo são os pacientes com gripe. A lesão que o vírus da gripe provoca do sistema respiratório também favorece a invasão de bactérias, que se aproveitam da redução da capacidade do paciente de combater os germes que chegam às partes mais interiores do sistema respiratório. Pessoas idosas naturalmente têm seu sistema imunológico mais fraco, o que as coloca sob maior risco de desenvolver pneumonias. Do mesmo modo, pessoas já debilitadas por outras doenças, como insuficiência cardíaca, alcoolismo ou diabetes, também apresentam maiores riscos.
FATORES DE RISCO PARA PNEUMONIA
Os principais fatores de risco para pneumonia são:
– Idade maior que 65 anos.
– Infecções respiratórias virais, como gripe.
– Tabagismo.
– Doenças imunossupressoras ( HIV, transplante, câncer…).
– DPOC (bronquite crônica e enfisema pulmonar).
– Usuários de drogas.
– Doentes acamados.
– Pessoas com redução do nível de consciência.
– Hospitalizações prolongadas.
– Pacientes em ventilação mecânica (em uso de respirador artificial).
– Pacientes com outra doença pulmonar prévia (sequelas de tuberculose, bronquiectasias, fibrose cística, etc.)
Pneumonia por aspiração
Um tipo gravíssimo de pneumonia é a pneumonia por aspiração. Ocorre em pessoas que vomitam e logo após aspiram o seu conteúdo. É um tipo de pneumonia comum em pacientes com nível de consciência reduzido, que perdem a capacidade de tossir ou de engolir a própria saliva, fazendo com que as secreções da cavidade oral caiam nas vias respiratórias. A via aérea desta pessoa fica exposta a uma quantidade imensa de micróbios, muito maior do que o habitual, favorecendo o desenvolvimento de pneumonia. Um exemplo comum é alguém que bebeu muito e está em coma ou pré-coma alcoólico.

SINTOMAS DA PNEUMONIA

Os sinais e sintomas da pneumonia incluem tosse com expectoração, febre, calafrios, falta de ar, dor no peito quando se respira fundo, vômitos, perda de apetite, prostração e dores pelo corpo. Pode haver presença de sangue misturado ao escarro. A febre da pneumonia é geralmente alta.
É muito comum a pneumonia surgir como complicação de uma gripe. Muitas vezes o paciente acaba atribuindo seus sintomas de pneumonia à gripe, demorando a procurar ajuda médica. É preciso ter atenção a quadros de gripe que não melhoram, ou até pioram progressivamente, principalmente se o paciente for idoso.
Pacientes acima de 60 anos ou com outras doenças, como insuficiência renal, insuficiência cardíaca, cirrose, HIV ou uso de drogas imunossupressoras, podem apresentar um quadro mais discreto, com pouca tosse e nenhuma febre. Às vezes, a pneumonia neste grupo se apresenta apenas com prostração e alterações mentais, como desorientação e confusão mental.
Uma das complicações possíveis da pneumonia é a formação de derrame pleural, que colabora para o surgimento de cansaço e falta de ar.
Nas pneumonias extensas, quando grande parte do tecido pulmonar está acometido, o paciente pode entrar em insuficiência respiratória, sendo necessária a entubação orotraqueal, ventilação mecânica e internação em unidade de terapia intensiva (UTI).
Pneumonias atípicas
Existe um grupo de bactérias, entre elas MycoplasmaLegionella e Clamídia, que causam as chamadas pneumonias atípicas. São formas que podem ter evolução mais lenta e com quadro não tão óbvio de pneumonia.
DIFERENÇAS ENTRE PNEUMONIA E TUBERCULOSE
Muitos pacientes que apresentam um quadro de tosse e expectoração ficam assustados com a possibilidade de terem tuberculose. A diferença está no tempo de evolução da doença. A pneumonia é um quadro agudo que evolui em horas. O paciente fica mal com pouco tempo de doença, procurando atendimento médico já nas primeiras 72 horas de doença. A tuberculose se apresenta como um quadro mais arrastado, com os sintomas piorando gradativamente e o paciente muitas vezes só procura atendimento médico várias semanas depois do início dos sintomas.
DIAGNÓSTICO DA PNEUMONIA
O diagnóstico da pneumonia é feito normalmente com exame físico e uma radiografia de tórax. Análises de sangue podem ajudar, mas não são imprescindíveis. Um bom médico é capaz de diagnosticar uma pneumonia apenas com a história clínica e o exame físico.
A radiografia, por ser um exame barato e amplamente disponível, é normalmente solicitada para confirmação do diagnóstico. Os alvéolos cheios de secreção aparecem como uma mancha branca à radiografia de tórax, como se pode ver na foto ao lado
O hemograma do paciente com pneumonia apresenta uma grande elevação do número de leucócitos, típico de infecções bacterianas.
Nos pacientes mais graves, que necessitam de hospitalização, normalmente tentamos identificar qual é a bactéria responsável pela pneumonia. Podemos pesquisar a bactéria no sangue (através da hemocultura) ou no próprio escarro do paciente. Em casos selecionados pode ser necessária a coleta de secreções diretamente do pulmão, através da broncoscopia.

TRATAMENTO DA PNEUMONIA

As pneumonias são divididas em comunitárias, quando adquiridas no dia-a-dia, e hospitalares, quando surgem em pacientes hospitalizados. A pneumonia hospitalar é mais grave e mais difícil de tratar, pois é normalmente causada por bactérias mais resistentes e acomete pacientes mais fragilizados.
O tratamento das pneumonias bacterianas é feito com antibióticos por no mínimo oito dias. As pneumonias comunitárias podem ser tratadas com antibióticos orais, porém, aquelas que evoluem mal necessitam de internação hospitalar e antibióticos venosos.
As principais drogas usadas para as pneumonias comunitárias são a amoxacilina com ácido clavulânico, azitromicina, claritromicina, ceftriaxona, levofloxacino e moxifloxacino. Esperam-se sinais de melhora a partir do segundo ou terceiro dia de tratamento.
Pneumonias podem facilmente levar à sepse e costumam ser importante causas de morte em idosos e pacientes imunossuprimidos.
Já existe vacina contra a pneumonia estreptocócica, causada pelo Streptococcus pneumoniae, o tipo mais comum. Ela está indicada em crianças e pessoas acima dos 50 anos, mas não evita pneumonias causadas por outros germes.

PEGAR FRIO CAUSA PNEUMONIA?

A história do frio é muito difundida na população, mas apresenta apenas uma pequena parcela de verdade. Como eu já expliquei, para se ter pneumonia é necessário uma infecção bacteriana; não basta uma corrente de ar frio para nos infectar.
O que acontece é que no frio (no Brasil poucos lugares fazem realmente frio) o sistema de defesa, principalmente os cílios das vias aéreas, funcionam de modo mais lentificado, o que favorece a invasão de germes. No inverno as pessoas andam menos na rua e tendem a se aglomerar em locais fechados, favorecendo a transmissão de vírus como o da gripe. Como já referido, infecções respiratórias virais são fatores de risco, principalmente em idosos, para o aparecimento de pneumonia.
Agora, ninguém pega pneumonia porque abriu a geladeira com o corpo molhado ou porque pegou uma chuva saindo do trabalho ou do colégio. Felizmente, nosso sistema imune é suficientemente forte para lidar com situações triviais como estas.

DOR DE GARGANTA – CAUSAS, SINTOMAS E TRATAMENTO


Dor de garganta
A dor de garganta é um dos sintomas mais comuns da prática médica, sendo frequente tanto em adultos quanto em crianças. A inflamação da garganta surge, geralmente, devido a um quadro de faringite e/ou amigdalite, ou seja, inflamações da faringe ou da amígdala, respectivamente.
Existem várias causas para a dor de garganta, sendo mais de metade dos casos de origem viral, geralmente por gripe, resfriado ou mononucleose.
Neste artigo vamos falar de forma geral sobre as faringites de origem infecciosa (viral e bacteriana) e não infecciosa, abordando seus sintomas, complicações e tratamento.

Se você procura informações específicas sobre a faringite bacteriana (faringite estreptocócica), acesse o seguinte artigo:

O QUE SÃO A FARINGITE E A AMIGDALITE?

Faringite é o nome dado à inflamação da faringe; amigdalite é a inflamação das amígdalas. Ambas apresentam como principal sintoma a dor de garganta. Como estão anatomicamente próximas, é muito comum a faringe e as amígdalas inflamarem simultaneamente, um quadro chamado de faringoamigdalite. Apesar de inflamarem juntas, algumas pessoas têm predominantemente amigdalite, enquanto outras, faringites. Ao longo do texto vou alternar os termos faringite e amigdalite, mas o que vale para uma também serve para a outra.
Dor de garganta
A faringoamigdalite pode ser causada por infecções bacterianas ou virais. A maioria dos casos é de origem viral. Vários tipos de vírus podem levar à faringite e/ou amigdalite. A gripe é um exemplo comum de dor de garganta de origem viral. 
As faringites virais são processos benignos que se resolvem espontaneamente, ao contrário das faringites ou amigdalites bacterianas que podem levar a complicações, como abscessos e febre reumática. A dor de garganta causada por bactérias deve ser preferencialmente tratada com antibióticos (explico o porquê adiante).
Tanto a faringite bacteriana quanto viral podem ser transmitidas para outras pessoas. Em geral, as dores de garganta provocadas por viroses são altamente contagiosas, enquanto as provocadas por bactérias só são transmitidas para pessoas com contato próximo e prolongado, como familiares ou amigos muito próximos.

CAUSAS DE DOR DE GARGANTA

Apesar deste artigo ser focado nas faringites de origem viral e bacteriana, vale a pena citarmos rapidamente as principais causas de dor de garganta, uma vez que nem todas as causas são de origem infecciosa.


Dor de garganta de origem não infecciosa – cerca de 30% dos casos
– Alergias
– Refluxo gastroesofágico
– Irritação da garganta provocada por fumaça de cigarro ou álcool.
– Dor na garganta por ressecamento da mucosa em pessoas que dormem de boca aberta.
– Frio e baixa umidade do ar.
– Uso excessivo da voz.
– Tumores da laringe ou orofaringe (causa rara de dor de garganta).
Dor de garganta de origem viral – cerca de 50% dos casos
– Gripe (provocada pelo vírus Influenza)
– Resfriado (provocado pelos vírus Rinovírus, Adenovirus, Vírus sincicial respiratório, Coronavirus e Parainfluenza).
– Mononucleose (provocada pelo vírus Epstein Barr virus).
– Herpangina (provocada pelo vírus Coxsackievirus).
– Herpes (provocada pelo vírus Herpes simplex).
– Infecção aguda pelo vírus HIV 
Dor de garganta de origem bacteriana – cerca de 20% dos casos
– Estreptococos do grupo A (causa bacteriana mais comum).
– Estreptococos do grupo C.
– Estreptococos do grupo G.

COMO DISTINGUIR UMA DOR DE GARGANTA DE ORIGEM VIRAL, BACTERIANA OU NÃO INFECCIOSA?

Quando o paciente se apresenta com a garganta inflamada, dois pontos precisam ser avaliados: as características da inflamação e a existência ou não de sintomas associados.
As faringites de origem não infecciosa costumam ser fáceis de serem distinguidas, pois não provocam pus na garganta ou nas amígdalas e não costumam estar acompanhadas de outros sintomas, tais como febre, queda do estado geral, perda do apetite, etc. A única exceção é a dor de garganta de origem alérgica, que estar associada a outros sintomas alérgicos, como conjuntivite, rinite e espirros.
Já as faringoamigdalites de origem infecciosa (viral ou bacteriana), frequentemente provocam febre, queda do estado geral, perda de apetite, apatia, dor no corpo e outros sintomas típicos de uma infecção.
O modo mais correto de distinguir uma faringite viral de uma faringite bacteriana é através da coleta de material da garganta por swab ou Zaragatoa, uma vareta com algodão na ponta usada para colher material da área inflamada para posterior avaliação laboratorial. A análise do material colhido pelo swab consegue identificar o agente infeccioso, seja ele uma bactéria ou um vírus.
Apesar da ajuda do swab, há um problema de ordem prática: a identificação do agente infeccioso demora pelo menos 48-72h. Por isso, muitas vezes, os médicos optam por iniciar o tratamento baseado em achados clínicos. Até já existem testes laboratoriais mais rápidos para se identificar bactérias, mas nem sempre há facilidade para colher e enviar o material para análise.
Um exame que pode ser feito para saber se o paciente teve contato recente com a bactéria Streptococcus, que frequentemente causa dor de garganta, é a dosagem do anticorpo antiestreptolisina O, conhecido também pela sigla ASLO. Os valores do ASLO começam a se elevar cerca de uma a duas semana depois do início da faringite/amigdalite e atinge seu valor máximo ao redor da 5 semana. A dosagem do ASLO nos primeiros dias de infecção só é útil se for para ser comparada com uma nova dosagem semanas depois. Se no início da doença o paciente tinha níveis de ASLO baixo e semanas depois ele está bem elevado, podemos afirmar que houve uma infecção pela bactéria  Streptococcus.  Portanto,  o exame acaba servindo mais para saber retrospectivamente se o paciente teve ou não uma faringite por Streptococcus, já que o seu resultado só se torna positivo vários dias depois da faringite ter se curado.
Como nem sempre temos à mão exames complementares que nos ajudam a identificar o germe causador de uma dor de garganta, é importante sabermos pelo menos distinguir pelos sinais e sintomas uma faringite viral de uma faringite bacteriana.

SINTOMAS DA FARINGITE E AMIGDALITE

Os sintomas da amigdalites/faringite, em geral, são:
– Dor de garganta.
– Dor para engolir.
– Febre.
– Dores pelo corpo.
– Dor de cabeça.
– Prostração.
Todos os sintomas citados acima são comuns tanto em infecções virais quanto bacterianas. São necessários, portanto, outros elementos para distinguir uma da outra.

SINAIS E SINTOMAS DA FARINGITE VIRAL

Foto de uma faringite viral
Faringite viral
Normalmente, as faringites virais vêm acompanhadas de outros sinais de infecção das vias respiratórias, como tosse, espirros, constipação nasal, conjuntivite, rouquidão, inapetência ou dores pelo corpo. Não comum uma faringite viral atacar somente a garganta. O paciente habitualmente tem um quadro que sugere uma gripe ou resfriado. Outra dica é que na faringite viral, apesar da garganta ficar muito inflamada, não é comum haver pus.
Alguns pacientes com alergia podem acabar tendo um quadro parecido com faringite viral, com rinossinusite, espirros, dor de cabeça e mal estar geral. A garganta pode ficar inflamada, mas o paciente não tem febre nestes casos.

SINAIS E SINTOMAS DA FARINGITE BACTERIANA

Foto de uma amigdalite bacteriana
Amigdalite bacteriana
Já as amigdalites causadas por bactérias, além de não apresentarem os sintomas virais, típicos, como espirros e congestão nasal, costumam causar pontos de pus nas amígdalas e aumento dos linfonodos (gânglios) do pescoço. A faringite bacteriana também pode causar edema da úvula e pontos hemorrágicos no palato (vários pontos vermelhos, chamados petéquias, no céu da boca). A febre da infecção bacteriana costuma ser mais alta que na viral, mas isso não é uma regra, já que há casos de gripe com febre bem alta.
A presença de pus e gânglios aumentados na região do pescoço fala fortemente a favor de uma faringite bacteriana. Entretanto, algumas infecções virais, como a mononucleose infecciosa também podem cursar com estes achados.
petequias-palato
Petéquias no palato – provável faringite bacteriana
A mononucleose é causada pelo vírus Epstein-Barr e costuma se apresenta com febre, amigdalite purulenta e aumento de linfonodos na região posterior do pescoço (ao contrário da amigdalite bacteriana que apresenta aumento dos linfonodos da região anterior do pescoço). Saiba mais em: 

COMPLICAÇÕES DAS AMIGDALITES BACTERIANAS

As faringoamigdalites virais costumam melhorar espontaneamente após poucos dias, não provocando nenhum tipo de problema maior. Por outro lado, as faringoamigdalites bacterianas podem causar diversas complicações se não tratadas adequadamente com antibióticos. Entre elas podemos citar:
  • Febre reumática, que ocorre principalmente em jovens e crianças.
  • Escarlatina, que é uma doença causada pela bactéria Streptococcus.
  • Glomerulonefrite pós-estreptocócica, que é uma lesão dos rins causada pela mesma bactéria Streptococcus. Costuma cursar com hipertensão, presença de sangue na urina e insuficiência renal aguda.
  •  Existe uma tipo de psoríase, chamado de psoríase gutata, que está relacionada a faringites pelo Streptococcus. São lesões de pele que surgem sempre que há uma infecção de garganta, desaparecendo após a sua cura.
Durante a investigação destas complicações, a dosagem do ASLO é bem útil, pois, nos casos duvidosos ela, pode ajudar a mostrar que o paciente teve uma infecção bacteriana por Streptococcus nos últimos 2-3 meses.

TRATAMENTO DA AMIGDALITE | REMÉDIOS PARA DOR DE GARGANTA

Para se evitar as complicações das amigdalites bacterianas descritas acima, o tratamento deve ser sempre feito com antibióticos. Na maioria dos casos, em 48 horas já há uma grande melhora dos sintomas. A pesquisa do germe na garganta com swab deve ser feita sempre que possível.
O tratamento com antibióticos derivados da penicilina, como amoxacilina (ou amoxacilina + ácido clavulânico), deve ser feito por 10 dias. Nos pacientes alérgicos à penicilina, uma opção é Azitromicina por 5 dias. Naqueles pacientes com intenso edema da faringe, que não conseguem engolir comprimidos, ou naqueles que não desejam ficar tomando remédio por vários dias, uma opção é a injeção intramuscular de penicilina Benzatina, o famoso Benzetacil, administrado em dose única.
Se os sintomas da faringite bacteriana forem muito fortes, enquanto espera-se o efeito dos antibióticos, pode-se usar anti-inflamatórios para aliviar a inflamação da garganta. Mas atenção, os anti-inflamatórios são apenas sintomáticos, eles não tratam a infecção bacteriana.
A faringites virais normalmente duram apenas quatro ou cinco dias e se curam sozinhas. Não é preciso, nem é indicado, o uso de antibióticos. Se os sintomas forem muito incômodos, pode-se usar anti-inflamatórios por dois ou três dias. De resto, bastam repouso e boa hidratação.
Tratamentos naturais para a dor de garganta:
  • Mel: Não há nenhum trabalho que tenha conseguido demonstrar um real benefício do mel.
  • Própolis: Apresenta efeito anti-inflamatório pequeno. Funciona muito menos que qualquer anti-inflamatório comum.
  • Papaína: Além de não melhorar, em grandes quantidades pode piorar a inflamação.
  • Não há trabalhos que provem a eficácia da homeopatia ou fitoterapia no tratamento das faringites. O tempo de doença e a incidência de complicações é igual ao placebo.
Quem quiser alívio sintomático sem tomar muitos remédios, o ideal é realizar vários gargarejos diários com água morna e uma pitada de sal.
RETIRADA DAS AMÍGDALAS
A retirada das amígdalas (amigdalectomia) é uma opção nas crianças que apresentam mais de seis episódios de faringite estreptocócica por ano. Já nos adultos, como a incidência das complicações é muito menor, a indicação de amigdalectomia é mais controversa, pois existe a possibilidade de não haver melhora, fazendo apenas com que o paciente deixe de ter crises de amigdalites e passe a ter crises de faringites, o que no final dá no mesmo.
A amigdalectomia também pode ser feita nos casos de amígdalas muito grandes, que atrapalham a respiração e causam roncos à noite, mau hálito intratável ou quando há abscesso nas amígdalas.

AMIGDALITE CASEOSA

Cáseo e criptas nas amigdalas
Cáseo e criptas nas amigdalas
Em pacientes com infecções de garganta de repetição podem-se formar criptas (pequenos buracos) nas amígdalas. Estas acumulam cáseo (ou caseum), uma substância branca ou amarelada, parecida com pus, que é na verdade restos celulares de processos inflamatórios antigos (pontinhos brancos na foto abaixo).
O cáseo pode causar mau hálito em pessoas com amigdalite/faringite crônica 
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